Abstract

Este artigo examina um curta de 2002, intitulado Como se morre no cinema e dirigido por Luelane Loiola Corrêa, que toma como ponto de partida o filme Vidas secas (1963) de Nelson Pereira dos Santos. Como se morre no cinema focaliza nossa atenção em temas centrais tanto ao filme de Pereira dos Santos como ao romance epônimo de Graciliano Ramos, mas que são frequentemente eclipsados por leituras que tomam ambas as produções como ilustrações de uma família pobre de retirantes. Em particular, Como se morre no cinema chama a atenção sobre a importância de uma filosofia extra-humanista e bicho-cêntrica presente em ambas as versões de Vidas secas. Eu argumento que a presença dos animais -e, mais precisamente, da morte dos animais- no romance e no filme resulta imprescindível para entender também as suas preocupações formais e genéricas, e é o que tem levado a ambas as versões de Vidas secas a ser classificadas como obras sem gênero fixo: ao mesmo tempo experimental (ou modernista) e realista. Concluo que a preocupação sobre a representação da morte da cachorra Baleia -central ao romance, ao filme e ao curta- demonstra como os desafios filosóficos de representar a subjetividade e a consciência animal estão na raiz da estética ocidental, fazendo central a questão de "como se morre no cinema" para se imaginar uma estética extra- ou pós-humanista.

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