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YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY DE PORTUGAL AANGOLA: BREVES VIAGENS EKPHRÁSTICAS EM OS CUS DE JUDAS DE ANTÓNIO LOBO-ANTUNES ALESSANDRA M. PIRES AO iniciar estas notas sobre o romance Os cus de Judas de António Lobo-Antunes uma primeira pergunta que se configura, comum aos leitores do autor, define-se pela direção que este mesmo indicou em uma crônica à revista portuguesa Visão, e que nos parece ser tema recorrente na obra do escritor. Escreve Lobo-Antunes em como que em vias de definir sua labuta ou uma ética de vida: “Nada nos ajuda, é tarde, tentamos conversar e é tarde, fazemos amor e é tarde apesar de termos feito amor na esperança que não seja” (“Nada de especial.” Visão, 12 Novembro de 2007). Eis que a noção temporal de uma falta existencial se impõe, por vezes sufocante, claustrofóbica, doutras vezes insuportável, alucinatória ou ainda reveladora. À luz destas tão humanas sugestões que encontro na leitura do escritor António Lobo-Antunes, sigo o seguinte fio nestas breves notas: a compreensão dessa ética que se desenrola em uma espécie de estética subjacente à uma sensação de enfermidade , a um febril estar-no-mundo que nos apresenta Lobo-Antunes em sua obra, e particularmente neste artigo citado e em Os cus de Judas, romance publicado em 1979, que não escapa à categoria de falta, um topos de uma doença, no sentido em que a toma o autor em suas escritas . O romance Os cus de Judas apresenta assim um dos leitmotiv recorrentes na obra do autor, ou seja, o frágil limite entre viver e morrer. Acrescenta simultaneamente elementos que conferem repulsão ao mundo medíocre, no sentido original da palavra, i.e, médio e também urbano . Devemos ressaltar ainda que, as observações políticas evidentes na obra do escritor, os horrores da guerra em Angola, foram e continuam sendo tratadas, notadamente em observações pertinentes aos fatores YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY 331 politícos desta guerra colonial, bem como suas conseqüências, por exemplo a imediata percepção da falta de sentido da vida, da sua total opacidade (Seixo 56). Entretanto, o que nos interessa tratar aqui não é a viagem narrativa que se dá entre Lisboa e Luanda e seus conseqüentes desenvolvimentos da guerra colonial: fatos horrendos resultados de reminiscências fragmentadas de um passado perdido do narrador; antes disso, o que nos concerne nestas notas são os fragmentos de outro tipo de viagens: viagens que chamamos ekphrásticas e que, apontam curiosamente ao paradoxal horror das guerras. Estas viagens curtas perpassam todo o romance, de forma a lhe dar uma aura estética perdida em meio aos fragmentos de memória e de horror relativos à guerra. Devemos definir o que entendemos por ekphrasis em geral e mais especificamente . Neste contexto do romance de Lobo-Antunes; questionamos a exist ência do que se denomina tradicionalmente ekphrasis. Pois, se a ekphrasis clássica remete ao escudo de Aquiles descrito por Homero em minuciosos detalhes e circunvoluções, o tipo de descrição artística que se encontra em Os cus de Judas se situa em outro nível daquela descri- ção detalhada de uma obra de arte estabelecida por Homero. Por isso mesmo, desejo nomeá-las como brevíssimos espamos referentes à obras de arte que se inserem na narrativa e que para além dela, penetram nos espíritos atormentados dos personagens, dando forma a um mundo que se anuncia doloroso. A noção de ekphrasis remete deste modo, à descri- ção de uma obra de arte visual em um contexto literário, no entanto propomos tratar o conceito em um sentido mais largo do que a simples transposição à forma literária de uma pintura, escultura ou forma arquitet ônica. A ekphrasis a qual nos referimos é de fato, parte integrante da narrativa e sua presença indica um momento no qual não somente uma obra de arte aparece em meio ao texto. De fato, ao texto impõem simultaneamente o corpo do narrador, das personagens, até dos animais, apari ções estas, sempre vinculadas às descrições. Ora, sabemos da relevância do corpo na...

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