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FALL2005 173 Performance Reviews Êxtase e presença no teatro do sul do Brasil: O caso de Kassandra Gilberto Icle Assisti ao espetáculo Aos que virão depois de nós Kassandra in process, a que vou me referir como Kassandra, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz de Porto Alegre, Brasil, num galpão onde o grupo tem sua sede. A encenação ocorre em diversos espaços, labirintos, salas. Como espectador, estou envolvido na ação como quem está dentro dela. A proposta de relação com a platéia estabelece uma tridimensionalidade para o ator, de tal modo que, ao invés de olharmos a cena de forma frontal, como simples espectadores, a observamos de dentro dela e dela participamos. Esse aspecto é uma recorrência no trabalho do grupo Ói NóisAqui Traveiz.Adilatação do tempo determinada pela ritualização da ação, a interação direta com o público, os corpos nus e seminus dos atores, a música ao vivo, a elaboração de temas míticos são elementos que lembram outras encenações do grupo e marcam um modo poético-estético de espetacularidade que singulariza os trabalhos do Ói Nóis Aqui Traveiz. Como espectador, poderia me deter em muitos aspectos, mas acredito que minha contribuição possa ser mais definitiva na análise do trabalho dos atores. Contudo, reservo aos críticos a elaboração própria às suas considerações e me proponho, a partir do olhar privilegiado de artista pesquisador, analisar aspectos precisos do trabalho atoral. A proposta de encenação de Kassandra encaminha o trabalho dos atores para uma dimensão bem determinada, na qual os efeitos de percepção precisam possuir atributos específicos. Chamo de efeitos de percepção esta nossa sensação, como espectadores, de algo não-cotidiano, de representação, uma alteração de nossa percepção ao interagirmos com a ação do ator. Nessa interação 174 LATINAMERICAN THEATRE REVIEW ficam suspensas as ordens cotidianas de tempo e de espaço, e fruímos uma ação que não é cotidiana, mas, ao contrário, irrompe nosso cotidiano e nos leva, ou talvez nos eleva, para uma outra dimensão. Ao assistir a Kassandra, infiro que essa observação tridimensional por parte do espectador, a proximidade do ator com o público e a forma semi-coreografada de suas ações estabelecem duas ordens na manifestação desses efeitos de percepção. A primeira é uma linha muito pequena entre a ação cênica e a ação real. Não só o público contribui para uma ação real, pois está enredado (dentro do enredo) na trama e não só no espaço cênico, como os próprios atores experimentam um risco que causa um efeito de percepção, no qual, por instantes, duvidamos se o que testemunhamos está se passando porque está programado, ou algo fugiu do controle dos atores e precisamos ajudar. É o caso da cena em que um dos atores, amarrado pelos pés, é içado e pendurado por uma corda e tem a cabeça e parte do corpo mergulhados numrecipientecomágua,simulandouma tortura. A proximidade com que presenciamos essa cena e o tempo em que o ator consegue permanecer submerso causam um efeito em nossa percepção de que testemunhamos algo que se passa diante de nós. Não apenas se passa, mas nos passa, nos atravessa. A segunda manifestação desses efeitos de percepção se resume na idéia de que a presença dos atores de Kassandra estimula em nós, espectadores, uma presença também Atriz: Tânia Farias Fotógrafo: Claudio Etges Atriz: Tânia Farias Fotógrafo: Claudio Etges FALL2005 175 especial. O problema que realmente gostaria de discutir a partir desses dois efeitos de percepção, e que pude observar no trabalho dos atores em Kassandra, estão ligados aos aspectos idiossincráticos da encenação, contudo conduzem a uma outra discussão. Como é possível que esses efeitos de percepção possam nos atingir de forma tão violenta e contundente?Aidéia que vou me esforçar...

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