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Reviewed by:
  • Leituras críticas sobre Evaldo Cabral de Mello
  • Rômulo Luiz Xavier do Nascimento
Schwarcz, Lilia Moritz, org. Leituras críticas sobre Evaldo Cabral de Mello. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2008. 204 pp.

Para o estudioso de História colonial e imperial do Brasil, a coletânea de críticas apresentada por Lilia Moritz Schwarcz acerca da obra de Evaldo Cabral de [End Page 220] Mello nos aparece como uma contribuição preciosa à historiografia brasileira. Tal contribuição não apenas é importante pela relevância do autor na historiografia do tema, mas também dos estudiosos escolhidos para a realização das críticas como Stuart Schwartz, Pedro Puntoni, Luiz Felipe de Alencastro, Júnia Ferreira Furtado e a própria Lilia Schwarcz. O livro em questão nos leva a uma reflexão sobre a maneira de se construir o passado escapando às amarras teóricas. Isso não quer dizer (na apreciação de Stuart Schwartz), todavia, que Cabral de Mello não seja um historiador acadêmico. Pelo contrário, na opinião de Schwartz, o primeiro no livro a tecer comentários acerca da obra evaldiana, "durante seu treinamento na Europa, trabalhou com historiadores profissionais, e seus métodos de pesquisa historiográfica e em arquivos certamente satisfazem os mais exigentes padrões acadêmicos." Stuart Schwartz também nos mostra um Evaldo Cabral de Mello como autor que concebeu um projeto historiográfico, de forma que os seus seis primeiros livros encontram-se encadeados por uma temática regional, mas também de cariz imperial. Assim, desde o clássico Olinda restaurada (1975) até O negócio do Brasil (1998), a antiga Capitania de Pernambuco foi visitada e revisitada em seus aspectos econômicos, sociais e do nativismo colonial em conexão com o mundo Atlântico e o Império português. E foi justamente a partir da invasão holandesa a Pernambuco (1630), que Cabral de Mello começou a olhar para a história local sem perder a grande escala do Atlântico sul.

Incisiva é a crítica feita por Luiz Felipe de Alencastro ao trabalho de Cabral de Mello, especificamente quando se refere ao seu livro intitulado O Norte agrário e o Império, cujo tema central é a disputa entre as províncias do sul e do norte do Brasil na segunda metade do século XIX. Falta nesta obra, segundo Alencastro, uma explicação que dê conta da relação entre assuntos tais quais imigração, medidas emancipacionistas, promoção do trabalhador nacional e incentivo à lavoura. O autor do hoje já clássico O trato dos viventes (2000), não pôde deixar de reconhecer que Cabral de Mello uniu, em suas palavras, "a metodologia histórica atual à erudição e a tradição regionalista." Por "tradição regionalista," entenda-se a tradição historiográfica fincada a partir de 1862, com a criação do atual Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP).

A análise mais pontual, mas não menos relevante, da obra de Evaldo Cabral de Mello ficou a cargo de Júnia Furtado, que mergulhou nos meandros de O nome e o sangue para nos apresentar uma narrativa que revela, desde as primeiras páginas, uma manipulação genealógica feita por um senhor-de-engenho no Pernambuco colonial para obter o hábito da Ordem de Cristo. Numa comparação feliz dessa obra de Cabral de Mello à obra literária de Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas – Furtado observou que, da mesma forma que a narrativa deste último nos remete ao cotidiano do sertão brasileiro, na narrativa de Cabral de Mello, fica descrita a sociedade da "açucarocracia" pernambucana dos séculos XVII e XVIII com todas as suas farsas e pretensões de ascensão [End Page 221] social. É justamente a lição da mentira no documento escrito, mostrada por Cabral de Mello no caso de João Paes Barreto na sua tentativa de esconder a sua origem sefardita, que nos passa a apreciação de Júnia Furtado. Evaldo Cabral de Mello foi, na sua opini...

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