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Reviewed by:
  • Canibalia: Canibalismo, calibanismo, antropofagia cultural y consumo en América Latina
  • Dário Borim Jr.
Jáuregui, Carlos A. Canibalia: Canibalismo, calibanismo, antropofagia cultural y consumo en América Latina. Madrid: Iberoamericana y Vervuert, 2008. Bibliography. Index. 724 pp.

Vencedora do prestigioso prêmio Casa de las Américas, de Havana, Cuba, esta obra discorre sobre questões centrais no universo simbólico das representações artísticas da América Latina: o canibalismo (real ou imaginário) e seus temas afins, como o calibanismo e a antropofagia cultural. São sete longos e bem documentados capítulos, além de uma extensa introdução, que nos remetem ao vasto e diversificado papel da questionável realidade sócio-histórica do canibalismo segundo o que se lê nos depoimentos de viajantes europeus e se percebe nas artes produzidas ao longo de mais de cinco séculos.

"El cuerpo constituye un depósito de metáforas" (13), diz o professor de literatura e antropologia cultural da Universidade de Vanderbilt ao iniciar seu inovador estudo. Com essa sucinta colocação o autor inaugura sua erudita reflexão multidisciplinar apoiada em variados pressupostos teóricos e ideológicos, do marxismo ao pós-colonialismo e do substrato lexicográfico e etimológico aos imperativos mercadológicos da arte.

No primeiro capítulo, de título homólogo ao do volume como um todo, fazse uma arqueologia da invenção do ser "canibal" dentro da economia simbólica maniqueísta do mundo "selvagem" americano. Questionam-se, também, as razões imperialistas para se relatar a existência de um ser estranho em face à encomenda evangélica de representação do mal. No segundo capítulo, porém, a atenção recai sobre o canibalismo dos próprios europeus e o horror da experiência colonial. Além disso, há espaço para a análise do legado literário e documental da crescente consciência crioula do movimento barroco, com ênfase sobre os escritos de Bartolomeu de las Casas, Jean de Lery, Michel Montaigne e Juana Inés de la Cruz.

"Guardarropía histórica y simulacros de alteridad," o tereciro capítulo, aborda a representação do nobre selvagem e dos ditos canibais tanto dentro do que se costuma chamar de Iluminismo Atlântico como também nos pilares da mentalidade crioula e do nacionalismo de emancipação, como os da criação do [End Page 214] "tigre de los llanos" e "el caníbal de Buenos Aires." Jáuregui não deixa de apontar as várias facetas contraditórias do Romantismo latino-americano, inclusive a ausência ficcional dos africanos e afro-descendentes na literatura de José de Alencar.

No capítulo IV, sobre "Los monstruos del latinoamericano arielista," o autor comenta o medo de ser comido em Cuba, o suposto triunfo do arielismo apocalíptico e a versão indigenista do mesmo na Bolívia. Concentram-se os argumentos nos escritos de José Martí e José María Vargas Vila.

O tópico do quinto capítulo, "Antropofagia," é o consumo cultural como forma de modernidade e utopia. Aos leitores habituados a crer e celebrar os ditames da antropofagia cultural preconizada por Oswald de Andrade, será evidente a dose (nem tanto) discreta de cinismo com o qual Jáuregui discerne e retrata os paradoxos da modernidade estética como forma de afirmação da cultura nacional. Haveria no poeta/romancista paulista um (anti) indianismo canibal, uma utopia dionísica naquela invenção da antropofagia cultural como festa, onde afloram as inúmeras heterodoxias de um comunista sem par.

Jáuregui considera a Semana de Arte de 1922 um evento mítico, uma modernidade estética para uma "economia de sobremesa," termo este que toma emprestado a Mário de Andrade, sem se afastar, aliás, da visão desencantada que o próprio autor de Macunaíma expunha do evento, em 1942. Mário de Andrade afirma: o Modernismo foi "una cosa costosísima" que somente um milionário como Paulo Prado e uma cidade "tan provinciana como São Paulo" poderiam realizar e objetivar na Semana (Jáugueri 397).

O valor maior da reflexão de...

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