Abstract

No início dos anos 60, os presidentes brasileiros Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964) priorizaram a África na política externa brasileira, abrindo novas embaixadas, estabelecendo parcerias comercias e incentivando o interambio cultural com os africanos. Este artigo concentra-se nas matizes da proposta diplomática brasileira para o sul da África, mais especificamente Angola, Moçambique e África do Sul nos anos entre 1961 e 1964, e refere-se também em geral às relações políticas afro-brasileiras durante o mesmo período. Desde o início, ambos presidentes enfrentaram uma série de problemas que dificultaram a aproximação aos estados africanos recém saídos do colonialismo. A oposição do movimento Negro Nacionalista ao colonialismo e ao racismo no continente africano provou ser uma questão particularmente desafiadora. A falta de firmeza de Jânio Quadros e João Goulart no tratamento destas questões africanas foi um fator fundamental que tornou as relações diplomáticas entre os dois países não apenas complicadas para os diplomatas estreitarem as relações com a África, mas também problemáticas para os africanos levarem os brasileiros a sério. Em linhas gerais, os presidentes (brasileiros) defendiam, por exemplo, os interesses coloniais portugueses e franceses na África. Os presidentes condenavam publicamente o regime de separação racial na África do Sul-apartheid-porém sem muita convicção, sempre tendo em mente a atmosfera política da Guerra Fria e sem que causassem discórdia ao Ocidente e impedissem benefícios sociais e políticos na África do Sul. O tratamento dispensado a essas duas circunstâncias cruciais, descolonização e apartheid, sugere que a diplomacia afro-brasileira de Jânio Quadros e João Goulart não era desinvestida de interesses Ocidentais como os presidentes reinvidicavam. Esta pesquisa utiliza cartas confidencias escritas em português e obtidas no Itamaraty-o Ministério das Relações Exteriores no Brasil-cartas essas que revelam o funcionamento interno das relações afro-brasileiras em um nível muito mais profundo do que o acesso puramente institucional à história diplomática.

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