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Callaloo 30.2 (2007) 449-459

Homeless
Edimilson de Almeida Pereira

Cartografia I

o cultivo no mar
é devoração
: a cada movimento

de escuna
um fruto se desgasta
para intuir

a empresa que dirige
esse campo
é urgente revolvê-lo

desde a medula
—à superfície
o rascunho dos embates

revela muito &
pouco sobre o inferno
submerso

a palavra-sonar
traz à tona
o espólio que, um

dia corpo,
atravessou o próprio
meridiano

: para esse o
esquecimento e a sede
como sinais [End Page 449]

ou nomes
em outra
sintaxe figurados

Manhã

: antes que o fisgo
anuncie a tartaruga reagimos
à exigência do barco

ainda se escuta
o ranger da árvore-mãe, o crepitar
sob os machados

—estávamos cegos de frio
e receosos
da agressão que os deuses fariam
explodir do lodo

ao longe, porém, via-se o barco
não os fungos
e o armazém de insetos

atacamos
cientes de que a árvore
nos restituiria
o ferro
de embaraçar a caça

o tronco aguilhoado arrastou
meditações da flora
farpas
que desequilibram a proa

daí a guerra para tirar
o fisgo
levar à praia os homens
e não morrer na tartaruga
que matamos

—estávamos cegos, diz
o timoneiro
éramos da terra, naquele dia [End Page 450]
agora o mar
nos caleja o fígado

Colisão

o interesse dá sinais
de uma ilha
onde as vontades
aportam
para a separação

      : a máquina
despedaça os ânimos
o que entalhamos
na árvore
abdicou de seu êxito

(não fomos rendidos
pela espreita?)
mas certa linguagem
redimiu-nos

o barco que se impôs à orquídea
trepida
antes de esmorecer

não sabe se morrem em si
o mar
e o continente

      : a máquina
não distingue mutilação
fustiga a tartaruga e o fêmur
de quem a raptou

a voragem muda de fábrica
também os ofícios
       & rendimentos
       as regras
       & mercadorias
       os contratos
      & palavras [End Page 451]
a máquina não se prende ao porto
nem aceita a convenção
das cartas

território em si mesma
já não devora
os escalpos

      : a máquina
em nova política, administra

Navio

: a máquina são várias

como os seus nomes
alianças
& cálculos

: a que ora se apresenta
é um útero às avessas

um feto trocado
por fumo e aguardente
bóia
alheio ao mercado

há quem o destine à roça
quem o excite
para a fuga

nos porões da máquina
vegeta
contrário ao que era

a máquina mesma
pouco revela de si

—navega por que prêmios
sua rota
vale a pena? [End Page 452]

quanto mais se lava
maior custo
gera em seus lucros

: a máquina
se expande
a golpes e cólicas

a cada ângulo
um zero
ressecando as costas

       um piercing
em acusação às idéias

a máquina se ilustra
de anfíbios
mas não explica
suas divergências

      (ventre
      de morte,
      país
      de muitas
      línguas)

o exílio é um saldo
na linguagem
o que resta do mar
se mistura à saliva

no convés tudo
comunica
o parcial desembarque

      (uma vez
      em curso
      aportar
      é a passagem)

os que estiveram
na máquina trazem-na
em quebra-cabeças

: são várias [End Page 453]
e fendem na página
a migração
da sintaxe

Linguae

o mundo parece
outra figura
se aceitamos
o verbo sem contrário

      mas se o

vivido dispara
o míssil
das perguntas?

cabemos
no idioma a que não
se ajusta
o país de húmus?

esse idioma
percorre os artelhos
do que
falamos?

: eu memo
é cariocanga
(i circle
the namelessbody)

: eu memo
é capicovite
(glasses are shining
i know
nothing
catch
nothing)

: eu memo
é candandumba [End Page 454]

serena
(but it is silence
offered up
the ring)

la pierre de notre
origine
s'aniquile
mais

je suis un autre
avec
ma parfaite
hallucination

a pronunciar
uma nova

espessura
àtòrì       àtòrì
bá       organiz
mi       e
to        a
iyè       minha
tèmi        própria...

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