Abstract

Vários autores têm descrito a variedade do português falado na ilha de São Miguel (Açores,) mas nunca se analisou a fala dos micaelenses desde uma perspectiva sociolinguística contemporânea. Nesta obra, apresentamos uma análise quantitiva do dialecto da vila do Nordeste (São Miguel), em que se revela um sistema vocálico cuja variação oscila entre as pronúncias insulares das vogais tónicas e as formas correspondentes da língua padrão de Portugal. Por exemplo, enquanto todos os informantes no corpus pronunciaram a vogal tónica u como a vogal alta anterior arredondada [y] (como a u de francês, [ü]): uva = [yva]; fruta = [fryta], as produções das outras vogais no sistema variaram muito entre as formas características da ilha (leite = [let]; avô = [avú]; vaca = [vóka]; pouco = [pök]) e as formas mais próximas à variedade padrão nacional. Esta variabilidade indica que uma nova variedade padrão do português micaelense tem se desenvolvido. Neste sistema linguístico se detecta uma tensão entre as acções articulatórias que são emblemáticas da identidade micaelense (como a [y] em lugar da u) e as que manifestam uma resposta comprometida às forças linguísticas da norma padrão portuguesa.

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