Abstract

Muitos leitores conhecem José de Alencar principalmente como romancista. No entanto, entre 1850 e 1860, Alencar escreveu algumas peças de teatro que hoje são pouco estudadas. Duas destas peças, O demônio familiar (1857) e Mãe (1860), abordam a temática da escravidão no Brasil, tema altamente debatido na segunda metade do século XIX. Ambas as peças são representativas do projeto intelectual de Alencar por definir a identidade nacional e participar na construção de uma literatura verdadeiramente brasileira. Como tal, a análise de ambas as peças acrescenta uma dimensão notável ao estudo da obra literária e política alencariana. Como muitos textos do século dezenove, O demônio familiar e Mãe funcionam como complexas alegorias da nação. Ao nível literal, as peças se opõem à escravidão e ao racismo. Ao nível abstrato, por outro lado, propõem um modelo social conservador através do exemplo da unidade familiar patriarcal e europeizante. O leitor que procura o conteúdo progressista das obras deve reconhecer o passo radical que Alencar dá quando propõe o fim da escravidão, idealiza a mulher de cor como mãe e apresenta o filho da mulher negra como modelo ideal do brasileiro.

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