Abstract

Neste ensaio examinamos como o escritor brasileiro Autran Dourado utiliza a figura do morto, ou mais especificamente do morto-vivo, como elemento organizador no seu romance Ópera dos Mortos, publicado em 1967.Propomos que a metáfora do morto-vivo funciona como forma eficazde articular a perpetuação de um sistema patriarcal que, apesar de serobsoleto num contexto moderno, continua a exercer uma profunda influência na cultura mineira. A personagem central do romance, Rosalina, éprisioneira no seu sobrado patriarcal, cultivando um luto perpétuo dos seus antepassados e, consequentemente, se isolando nos parâmetros tanto temporais como espaciais do seu universo familiar. Ela é, neste sentido, a personificação de uma sociedade cuja veneração do passado não permite a mudançasócio-política significativa e necessária. Ao mesmo tempo, a narrativafrequentemente opaca e barroca de Dourado recusa, no final, umainterpretação puramente política, convidando assim o leitor a exploraras facetas tanto trágicas como poéticas da própria identidade mineira.

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