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Reviewed by:
  • O cosmopolitismo do pobre
  • Maria Consuelo Cunha Campos
Santiago, Silviano . O cosmopolitismo do pobre. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2004. 260 pp.

Leitura obrigatória para quantos queiram penetrar nos meandros das relações entre o cosmopolitismo histórico da elite letrada brasileira, à la Nabuco, e o nacionalismo de base localista no país, ou mesmo aprofundar-se na questão contemporânea das oscilações pendulares entre políticas a favor da identidade nacional e a favor da globalização no Brasil: assim poderia ser resumido o mais recente livro de Silviano Santiago.

Se entendermos por clássico, como faz Valéry, o escritor que traz em si um crítico e que o associa intimamente aos seus trabalhos de criação, então, sem hesitação possível, o escritor brasileiro contemporâneo é um clássico, móbile e múltiplo.

Se, nos últimos quinze anos, Silviano dedicou-se sobretudo à sua própria criação literária, não é menos verdade que, ao longo deste tempo, também prefaciou e organizou a monumental antologia Intérpretes do Brasil, em três volumes, bem como anotou e prefaciou a extensa e importante correspondência de Carlos Drummond de Andrade com Mário de Andrade, reunindo o que estava disperso e pondo, desta forma, vastíssimo e precioso material, comentado, ao alcance do leitor.

Os quinze textos ensaísticos agora enfeixados neste primeiro volume de uma trilogia anunciada foram produzidos para as mais diversas circunstâncias, no Brasil e no exterior: apresentações em simpósios e outros eventos da área acadêmica, artigos em revistas especializadas, capítulos em livros de autoria coletiva, e assim em diante.

No momento histórico em que movimentos diaspóricos de trabalhadores de países subdesenvolvidos, no contrafluxo dos do processo de colonização de antigas possessões européias, vêm incomodando e atemorizando as nações desenvolvidas para as quais se dirigem, estabelecem-se interessantes parcerias globais, [End Page 243] através das quais excluídos incluem-se. Exemplos multiplicam-se, no livro e em entrevistas de Silviano, de Clara Nunes gravando clip da obra de Chico Buarque em Angola, ao diálogo do grupo Nós do morro com o teatro inglês. Denunciando a pasmaceira que acomete a bem-comportada e fina literatura contemporânea, o ensaísta localiza na direção de tais parcerias globais este movimento de redefinição do nacional. Dos quinze textos que compõem O cosmopolitismo do pobre, o segundo, justamente aquele que dá o título ao volume, pode ser um excelente início para a leitura da obra.

Maria Consuelo Cunha Campos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
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