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Reviewed by:
  • Encenações do Brasil Rural em Guimarães Rosa
  • Mário Cezar Silva Leite
Lima, Deise Dantas . Encenações do Brasil Rural em Guimarães Rosa. Niterói: EdUFF, 2001. 133 pp. Referências.

O que escrever ou refletir sobre a obra de Guimarães Rosa que seja ou pareça novo? Afinal já não se disse tudo sobre o autor e sua obra? Guimarães, Grande Sertão,Sagarana,Riobaldo,Diadorim,Primeiras ou Terceiras Histórias. Autor, obras, personagens em que a crítica literária, às vezes, torna-se, transforma-se, em lugar comum e as "novidades" representam pouco ou nenhum avanço. Cria-se, por certo, em torno de alguns autores e obras (Guimarães, por um lado, é um deles), uma espécie de padrão ou universo crítico que poucos ousam atravessar. Mas afinal a obra e o autor não são indiscutivelmente resistentes às interpretações simplistas, sintéticas, unívocas? Sim, mas somente se a crítica tem (tem?) um papel claro e definido diante do corpus ou objeto literário e/ ou do grupo social/ intelectual ao qual se filia (e para o qual faz sentido). O "padrão" deve, de tempos em tempos, avançar, ampliar-se, fazer-se novo: redizer-se, desdizer-se ou cristaliza-se e dilui seus possíveis sentidos. Apesar das qualidades literárias, em muitos casos indiscutível, das obras, um novo olhar e um viés ainda inexplorado renovam a própria obra. Re-inauguram histórias, autores, personagens, crítica. Guimarães Rosa é, por outro lado, um destes autores que sempre encaminha a crítica para o seu re-invento (obra e crítica); há nele sempre um algo novo.

Encenações do Brasil Rural em Guimarães Rosa, de Deise Dantas Lima, parece-me cumprir, em alguns pontos, este papel re-inaugural da obra (conseqüentemente, também da crítica) de Guimarães Rosa. A leitura das novelas [End Page 191] "Campo geral," "Uma história de amor" e "A história de Lélio e Lina" permite um interessante jogo entre redizer e desdizer o padrão crítico para o Guimarães Rosa de Corpo de baile. Não sem motivo, a publicação em livro do que originalmente foi uma dissertação é prêmio merecido, resultado do Concurso Nacional Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (ANPOLL).

Organizado emc inco capítulos e alguns sub-capítulos com títulos que gravitam em torno de dois campos semânticos que já costumeiramente confluem (tecer/ coser/ tessitura; tecer/ leitura/ escritura/ tessitura), a autora, em sua análise, redimensiona personagens, textos, autor, crítica. Relaciona, compondo-opondo, as novelas e Grande sertão: veredas. Os Sertões, mítico, grandioso, "palco do conflito entre forças indomáveis" ou "vazio" e miserável a ser preenchido e superado "pela força de um empenho civilizatório"—paisagem brasileira predestinada ao não ser, de todo modo épico, do Brasil—e o sertão miúdo do cotidiano do "trabalhador humilde e anônimo." O "Grande sertão: fazendas." As "encenações de uma dada realidade do Brasil rural" revelam-se pelas relações intertextuais entre as três novelas, lidas como "representação alegórica do Brasil rural." Os aspectos "regionalistas"—unânimes para os críticos de Corpo de baile—caem por terra na medida em que a perspectiva é a do deslocamento/ errância. Personagens pobres (Miguelim, Manoelzão etc.) circulam "com passos incertos [...] em suas tentativas de construírem pouso seguro no campo dominado pelo latifúndio." No entrecruzamento entre História e Literatura, no deslocamento da concepção de uma história linear, a autora demonstra que—para além e com a errância e os deslocamentos—na desconstrução dos personagens o autor encena os primeiros/últimos passos de um Brasil rumo à modernização. "Tecidos pela ficção, vários pequenos acontecimentos dispersos do cotidiano dos personagens encenam aspectos da vida na região dominada pela pecuária extensiva [...]. Literatura e História selecionam, arranjam e modelam a matéria narrada." Com apoio na...

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